Setor econômico que se baseia na criatividade, no capital intelectual e na inovação para produzir e distribuir bens e serviços, a economia criativa deve gerar um milhão de novos empregos até 2030, e responde hoje por 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços fabricados no País). Para avaliar melhor o potencial de desenvolvimento de um município ou região brasileira a partir desse setor, um grupo de pesquisadores da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio) acaba de lançar o Índice de Desenvolvimento Potencial da Economia Criativa (IDPEC). O estudo contou com apoio da FAPERJ, por meio do edital Auxílio à Pesquisa (APQ1).
“Esse é o primeiro índice voltado à economia criativa no Brasil. A Firjan e o Itaú cultural divulgam um PIB do setor no Brasil e nos estados, mas o IDEPC não mensura o tamanho, e sim estima o potencial de uma cidade ou de um estado de se desenvolver pela economia criativa”, explicou o economista João Luiz de Figueiredo, coordenador do projeto e do Mestrado e Doutorado Profissional em Economia Criativa, Estratégia e Inovação (PPGECEI/ESPM). “Nosso objetivo, como pesquisadores em economia criativa, é fortalecer o conhecimento e contribuir para o desenvolvimento de nossas cidades”, justificou. Também participam do projeto os economistas Diogo Robaina e Paulo Vitor Lemos Ramalho.
Segundo o IDPEC, quanto mais perto de 1, maior é o potencial da cidade ou do estado em se desenvolver por meio da economia criativa. A cidade do Rio de Janeiro ficou em 19º lugar no ranking das capitais brasileiras. Apesar de ter somado mais pontos em 2023 do que em 2019 — passando de 0,43 para 0,47 — o Rio caiu da 15ª para a 19ª posição diante do crescimento de outras capitais. “Somos no Rio uma cidade especializada no setor, mas deixamos de ser a cidade mais especializada em economia criativa do Brasil, não quer dizer que ele seja frágil, mas precisamos analisar as outras dimensões que poderiam alimentar mais a nossa força criativa”.
O índice considera três dimensões: as capacidades humanas; a atratividade e conectividade espacial, ou seja, ter um ambiente urbano seguro, em que as pessoas consigam circular e se adaptar; e o potencial para fazer negócios. “Para que o Rio de Janeiro seja mais potente em economia criativa, precisa resolver gargalos como educação básica, segurança, que evita a circulação de pessoas e afasta investimentos, e outra dimensão, ter mais incentivos no orçamento municipal e estadual para a Cultura”, disse.
No Rio, o gasto per capita em Cultura aumentou de R$ 26,96 em 2017 para R$ 39,73 em 2023, apesar da cidade cair da 5ª para a 14ª posição nesse aspecto. Entre os segmentos que simbolizam a vocação do Rio para a economia criativa, estão o audiovisual, eventos e editorial. “Precisamos fortalecer investimentos em tecnologia e inovação no Rio, que geram impactos também para a indústria criativa”, ponderou. Florianópolis liderou o ranking do IDPEC, com 0,91 pontos. A cidade foi seguida por Vitória (0,83) e Curitiba (0,76), que se destacaram em variáveis como ensino superior e conectividade digital. Por sua vez, São Paulo (0,72 pontos) e Brasília (0,71) ficaram em quarto e quinto lugares.
Para a elaboração do IDPEC, os pesquisadores utilizaram como parâmetro índices europeus, dos Estados Unidos e da Coreia, mas o modelo foi desenvolvido segundo as peculiaridades do País. “Adaptamos o estudo à realidade brasileira, que é muito diversa e plural, e segundo a disponibilidade de dados, considerando as dimensões urbanas das cidades e dos estados”, detalhou Figueiredo.
Entre os dados que compõem a avaliação do IDPEC estão informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Médio, Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi), DataSus, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Mapa de Empresas – ferramenta disponibilizada pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte -, Hórus – sistema de informações da Secretaria Nacional de Aviação Civil, e do Conselho Federal de Administração (CFA).